quinta-feira, 26 de abril de 2012

SEREIAS DO CAMPO



                                              SEREIAS DO CAMPO


Corpos femininos que ondeiam e serpenteiam entre os ramos de trigo sob o sol ou chuva nada impede o movimento do trabalho árduo que corre e escorre entre essas mãos miúdas e fortes.

Mulheres de tempos e idades diferentes, mas unidas num só tempo o do trabalho.
Mulheres de formas, tamanhos e sonhos que anseiam por vida num multiplicar de novas vidas para mais trabalho. Essas são sereias da terra que cantam desde o alvorecer suas alegrias e tristezas que misturadas ao sangue que corta com o fio do facão os caules, cortam também os devaneios que poderiam tirá-las desse tempo ‘lento’. Seus movimentos languidos alcançam a rigidez dos dias.

Descalças e suadas projetam seus olhares no horizonte na tentativa de visualizar pássaros que podem levar seus mais íntimos desejos aos céus. Nessa força de trabalho, unidas no universo feminino se tornam fortes e livres, pois construíram um mundo especial.
O canto diário dessas mulheres Sereias da Terra, dissipa o peso dos feixes de trigo colocados em suas costas e carregados por longa distância , minimizam a dor de seus machucados . Ficam num transe!


O trabalho da mulher marca em diferentes culturas uma presença importante, pois sua docilidade é a ferramenta poderosa para as transformações mais profundas já registradas na história do trabalho.

domingo, 12 de fevereiro de 2012



APOLO

Seu corpo físico e poético que por si só fala. Corpo elemento físico e poético com aura de erotismo e sensualidade que seduz. Cada poro de sua pele exala energia e desejos, os músculos tensionados dispostos e expostos numa geografia entre o ocidente e oriente de seu território.

A paisagem dinâmica se desfaz e refaz e a cada posição, incita o olhar vertical, horizontal e oblíquo que busca um mundo ali revelado.

O seu corpo me fascina, me faz sentir calor e frio, nesse instante seu mundo esbarra com o meu corpo, quer me contar sua história.

Seu corpo, espaço infinito de superação e realização de conquistas interiores, aspecto sagrado, vejo-o como uma pluralidade com possibilidades de resistir e transcender.

Ao deslizar o olhar em cada relevo, no encontro de texturas que se desenham sob o desvendar de dobras e fissuras. Enlevos e despertar de sentidos se fazem ao mirar seu corpo Apolíneo. Desejos de ciciar aos seus ouvidos palavras de magia, que farão carícias e te envolverão em abraços intensos.

Empreender a viagem em seu território será como ir ao encontro de um lugar de existência, onde tudo é espiralidade, onde o Tempo poderá parar por segundos e se fazer Eterno.

Mally

11de janeiro 2012

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Habito nos elementos, matéria, energia tudo em espiral crescente.

Sou terra. Só o calor do Sahara, a elasticidade do tempo no deserto preenche meu coração.

O som da flauta se confunde com o sussurrar do vento que perpassa as areias, em caminhos moventes. Olhares se dirigem ao ouro do sol e cobiçam o chão quase rubro

Grãos da infinitude de mim , multiplicidades do ser que se espalham, perdem-se e se reúnem em algum lugar, aqui mesmo pode ser no estar além e é sempre o aqui ‘agora’.

Tempestade de areia move, remove, desloca incessantemente camadas petrificadas de silte. Não há como manter segredos, o mistério se faz aberto, se mostra, mas quem o pode ver. Poucos!

Flores de areia existem. As formas de contornos rígidos que se desfazem ao leve toque de uma brisa e assim é o pensamento liberto que voa e habita no que ainda não é , mas sendo. A certeza de que tudo se desfaz nos dá o dom da criação. Criando nos eternizamos nesse fluxo e defluxos como o universo do deserto de areia.

Desfaço-me líquida, fluindo possuindo, fontes e praias onde o mar ondeia. Assim é estar só e ao mesmo tempo na multidão de formas abissais em mim.

Voar, vagar, livre ser, translúcidas e tênues asas de sonhos, batem velozes em direção ao firmamento, rasgam a rota da fantasia. Ser borboleta, ave. Importa é que tudo posso , tudo quero, preciso e aceito. Meu vôo não é frágil é certeiro. A vida nunca está contida, ela escorre descompromissada na minha ampulheta.

Transito do ar ao fogo, elementos voláteis que dão passagem ao calor que queima sem consumir, transmutam e desnudam os véus de Ísis em direção ao inferno e projeta aos céus, sentimentos clareados.

As quatro estações, os quatro elementos em equilíbrio, assim me manifestam no Mundo.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

TORNAR PRESENTE

Ao escrever sinto-me bem, forte e feliz. A tristeza e insegurança se foram.
Minhas mãos tocam o teclado e há nesse momento um acordo o de deixar simplesmente fazer. Abandono-me ao som produzido pelo teclado e quase em hipnose me transporto para o dia 15 de dezembro de 2008. Levei tempo decidindo se escreveria e então escolhi escrever, a resistência foi frutífera, o sentido existe e existirá.

Entro em contato com a minha experiência da qualificação, que está incorporada
em mim, e algo diz não force: que emerge.

Cena 1 – Ambiente

Sentada isolada, comprimida, sou eu, me sinto assim, posição de destaque aquela que vai ser avaliada em seu conhecimento, a banca formada por duas professoras orientadoras e duas convidadas. Os rostos com tons, e com diferentes mensagens indecifráveis e os movimentos musculares de imperceptível tensão. Meus colegas preenchendo o espaço/ sala, com suas inquietações e murmúrios que pude perceber meio a tensão estabelecida. Em breves palavras este foi o cenário que consegui (re) memorar, mas colocá-los em forma de linguagem é sentir o distorcer da realidade vivenciada uma inadequação entre minhas palavras e eu.

A gramática não consegue expressar o que verdadeiramente é. Escolher o que é mais importante e o que pode ser deixado de lado. Estabelece-se um conflito, quero mesmo lembrar? Largo tudo, me afasto do teclado e vou dar uma caminhada, respirar sentir a vida que pulsa lá fora independentemente de minhas inquietações. O mundo se faz em cada segundo, gira e gera vidas múltiplas em ciclos que se cruzam.

cena 2-

Quero prosseguir. Quero estar em contato dentro e fora de mim, este momento único é importante é o investir no que acredito. Volto então à sala, ao me conectar novamente com o texto através do teclado, que soa suave e mistura-se aos sons externos que tento isolar, mas não por muito tempo, pois ao me entregar ao texto faço conexão com os sentimentos daquele dia.

Quando presentifiquei novamente aquele instante, as pessoas e tudo ao meu redor, trouxe da penumbra do passado, as vozes, imagens e me vi atordoada, envolvida, perdida e invadida... muito só!

Eu não sentia medo. Ordens e contra-ordens (dentro de mim) pareciam se colidir e aos poucos uma sensação de abandono foi tomando conta e havia apenas um estar presente. Minha presença!

A sensação de ser desnudada, exposta academicamente linha a linha do projeto, foi um ir além. O corpo escarnado exposto, veias e artérias infladas pelo pulsar arritimado da respiração, células processando a experiência e metabolizando. Qual o sentido de tudo? Significa que aceitei os valores daqueles que me cercam que, eu penso da mesma forma que eles. Aceitei o lugar. Aceitei essa Vida.

Os últimos acontecimentos vieram e desestabilizaram meu Mundinho organizado e me fizeram questionar a vida e seu sentido real, o estar aqui, o que fazer o tempo vivido e a ser vivido, a realização de desejos o prazer de estar – Um trampolim para minha ação.

Juntar fragmentos do que foi vivido, o “fazer de novo”, impossível, pois algo mudou, e só podemos prosseguir a partir desse ponto. Nesse instante sinto meus pés tocar o piso frio do granito, contrapondo com o calor da sala, fecho os olhos e deixo vir às sensações, um fluir sem censuras. O passado é um lugar onde nada mais pode acontecer.

No intermezo do espaço tempo, entrei e saí de agonias suaves, tento me recompor e começar. A regeneração o recobrir do corpo por novas camadas foram acontecendo pelo não fazer nada sobre, apenas por encontros de afectos, simplesmente o estar com o outro, É fazer. Não, tentar fazer. Os bons encontros inusitados com desconhecidos, que co-operaram no movimento de construção.

O novo “pulso”, o compasso que emerge no não fazer vai sedimentado essas camadas formadas de matéria essencial: confiança, amizade e vontade.

Sei que caminho para algo novo, sem saber o antes, nem o que será agora, tudo em processo, pois nada está dado, É deixar-me acontecer, ver o que funciona, o que se delineia, no caminho. Não é estar perdido, caminhos se constroem de maneiras e passos diferentes, somos mundos em expressões. O tatear, com o girar do caleidoscópio foi a minha forma de circular nos temas e capturar autores diversos, mas sempre objetivando fortalecer o assunto abordado.. Tenho certeza que não violei nenhuma regra. Posso ter violado uma convenção de fórmulas prontas.

Definir o foco da pesquisa, o lugar, dar limites é constituir regras que ajudam a sair do caos que tornam o possível, o “agora” é diferente de convenções que criam probabilidades que restringem as possibilidades.

Sensação de querer fazer mais, ou estar em mais coisas. É o dilema quero / tenho que. Um agora! Um basta. Quando olho para os “tenho que”, descubro os tantos que não tenho que. Estes outros se revelam “queros”.

Tornar Presente