segunda-feira, 29 de novembro de 2010

TORNAR PRESENTE

Ao escrever sinto-me bem, forte e feliz. A tristeza e insegurança se foram.
Minhas mãos tocam o teclado e há nesse momento um acordo o de deixar simplesmente fazer. Abandono-me ao som produzido pelo teclado e quase em hipnose me transporto para o dia 15 de dezembro de 2008. Levei tempo decidindo se escreveria e então escolhi escrever, a resistência foi frutífera, o sentido existe e existirá.

Entro em contato com a minha experiência da qualificação, que está incorporada
em mim, e algo diz não force: que emerge.

Cena 1 – Ambiente

Sentada isolada, comprimida, sou eu, me sinto assim, posição de destaque aquela que vai ser avaliada em seu conhecimento, a banca formada por duas professoras orientadoras e duas convidadas. Os rostos com tons, e com diferentes mensagens indecifráveis e os movimentos musculares de imperceptível tensão. Meus colegas preenchendo o espaço/ sala, com suas inquietações e murmúrios que pude perceber meio a tensão estabelecida. Em breves palavras este foi o cenário que consegui (re) memorar, mas colocá-los em forma de linguagem é sentir o distorcer da realidade vivenciada uma inadequação entre minhas palavras e eu.

A gramática não consegue expressar o que verdadeiramente é. Escolher o que é mais importante e o que pode ser deixado de lado. Estabelece-se um conflito, quero mesmo lembrar? Largo tudo, me afasto do teclado e vou dar uma caminhada, respirar sentir a vida que pulsa lá fora independentemente de minhas inquietações. O mundo se faz em cada segundo, gira e gera vidas múltiplas em ciclos que se cruzam.

cena 2-

Quero prosseguir. Quero estar em contato dentro e fora de mim, este momento único é importante é o investir no que acredito. Volto então à sala, ao me conectar novamente com o texto através do teclado, que soa suave e mistura-se aos sons externos que tento isolar, mas não por muito tempo, pois ao me entregar ao texto faço conexão com os sentimentos daquele dia.

Quando presentifiquei novamente aquele instante, as pessoas e tudo ao meu redor, trouxe da penumbra do passado, as vozes, imagens e me vi atordoada, envolvida, perdida e invadida... muito só!

Eu não sentia medo. Ordens e contra-ordens (dentro de mim) pareciam se colidir e aos poucos uma sensação de abandono foi tomando conta e havia apenas um estar presente. Minha presença!

A sensação de ser desnudada, exposta academicamente linha a linha do projeto, foi um ir além. O corpo escarnado exposto, veias e artérias infladas pelo pulsar arritimado da respiração, células processando a experiência e metabolizando. Qual o sentido de tudo? Significa que aceitei os valores daqueles que me cercam que, eu penso da mesma forma que eles. Aceitei o lugar. Aceitei essa Vida.

Os últimos acontecimentos vieram e desestabilizaram meu Mundinho organizado e me fizeram questionar a vida e seu sentido real, o estar aqui, o que fazer o tempo vivido e a ser vivido, a realização de desejos o prazer de estar – Um trampolim para minha ação.

Juntar fragmentos do que foi vivido, o “fazer de novo”, impossível, pois algo mudou, e só podemos prosseguir a partir desse ponto. Nesse instante sinto meus pés tocar o piso frio do granito, contrapondo com o calor da sala, fecho os olhos e deixo vir às sensações, um fluir sem censuras. O passado é um lugar onde nada mais pode acontecer.

No intermezo do espaço tempo, entrei e saí de agonias suaves, tento me recompor e começar. A regeneração o recobrir do corpo por novas camadas foram acontecendo pelo não fazer nada sobre, apenas por encontros de afectos, simplesmente o estar com o outro, É fazer. Não, tentar fazer. Os bons encontros inusitados com desconhecidos, que co-operaram no movimento de construção.

O novo “pulso”, o compasso que emerge no não fazer vai sedimentado essas camadas formadas de matéria essencial: confiança, amizade e vontade.

Sei que caminho para algo novo, sem saber o antes, nem o que será agora, tudo em processo, pois nada está dado, É deixar-me acontecer, ver o que funciona, o que se delineia, no caminho. Não é estar perdido, caminhos se constroem de maneiras e passos diferentes, somos mundos em expressões. O tatear, com o girar do caleidoscópio foi a minha forma de circular nos temas e capturar autores diversos, mas sempre objetivando fortalecer o assunto abordado.. Tenho certeza que não violei nenhuma regra. Posso ter violado uma convenção de fórmulas prontas.

Definir o foco da pesquisa, o lugar, dar limites é constituir regras que ajudam a sair do caos que tornam o possível, o “agora” é diferente de convenções que criam probabilidades que restringem as possibilidades.

Sensação de querer fazer mais, ou estar em mais coisas. É o dilema quero / tenho que. Um agora! Um basta. Quando olho para os “tenho que”, descubro os tantos que não tenho que. Estes outros se revelam “queros”.

Tornar Presente